Ainda que muitos venham a pensar que o tema da globalização orbita, enquanto ciêcias, entorno da Geografia e da (CIência) Política, ele está muito mais próximo, na verdade, da Geopolítica - enquanto prática político-econômica. Isso porque, a partir de uma perspectiva econômica liberal, impingiu-se um 'tratamento de choque' nos Estados-nações empobrecidos da África e da América Látina, bem como de parte da Ásia, fazendo com que os Estados nacionais fossem politicamente enfraquecidos e economicamente depaupeados, haja vista que os empréstimos do Fundo Monetário Internacional (FMI) vieram sob muitas condições austeras, fazendo com que os povos das nações economicamente atingidas sofressem com cortes do investimento público que serviriam para acodir as populações mais pobres - diminuir o Estado para manter o Estado, tornou-se condição 'sino qua non' para haver empréstimos às nações com as economias em frangalhos, ao passo que as tornou dependentes do capital internacional, criando uma relação desigual entre países do Norte e do Sul global.
Todos os Estados-nações que receberam ajuda financeira do FMI tiveram de se submeter às doutrinas das instituições financeiras de caráter estritamente liberal - em termos políticos e econômicos. O que isso significou, na prática? Significou a recorganização desses estados, que passaram a investir menos em setores como saúde, segurança e educação, bem como privatizaram suas empresas e aderiram à cartilha educacional de cunho liberal, emitida pela UNESCO e pelo Banco Mundial (BM) - na prática, a educação não era visto como um direito universal, logo, não deveriam, por força de lei, receber investimentos do Estado, no caso do Brasil, por meio de políticas públicas educacionais; além disso, dever-se-ia ter um gerenciamento semelhante ao setor privado, que busca pela eficiência, eficácia e qualidade na prestação de serviços, isto é, as escolas se tornariam apenas empreas, e os discentes seriam apenas uma clientela.
Ainda que, de longe, as propostas da UNESCO, BM, FMI e Unifec pareçam edificantes, fato é que a tentativa de homogeneizar medidas político-econômicas de caráter liberal nos países devedores das instituições financeiras internacionais, trouxe mais dores de cabeça que alívio. Isso porque, tomando a globalização como 'homogeneização', houve uma recusa, por parte das pessoas, das medidas austeras e liberais impetradas na Educação, por exemplo, visto que se tais medidas ignoraram a realidade de cada páis (devedor). A revolta popular serviu como aviso aos credores, em relação aos seus anseios austeros político-econômicos, que ambicionou medir cada povo a partir de uma e somente uma régua impopular e descolada da realidade de cada região (política). Ou seja, se a privatização de algumas empresas brasileiras não enfrentou maiores resistências, os bolivianos não aceitaram a privatização de sua água.
Na prática, a agenda (neo)liberal provocou revolta na maioria dos povos que foram submetos às medidas auseras - como 'tratamento de choque' - impostas pelo FMI e BM, fazendo com que os líderes das nações devedoras recuassem em suas ações, visto que elas não foram chanceladas pela sociedade logal, que elegeu um presidente, porém, não lhe deu um cheque em branco para fazer e desfazer políticas sociais como bem lhe aprouver.
O intelectual geógrafo Milton Santos, em seu livro "Por uma outa globalização", chamou atenção para uma globalização que aprofunda as desigualdades em níveis globais, e propõe que, se é para haver uma relação em escala global, que não seja a que estava vigente em sua época e que ainda permanece hoje em dia. No mesm diapasão, o grupo musical, em uma canção intitulada "Globalização (o delírio do Dragão)", aponta para a várzea que a globalização capitalista provoca, posto que é parasitária e opera em nível de estrutura estatal e burocrática - quase em abstração -, sem levar em conta que qualquer proposta de integração mundial precisa contar com o consetimento dos povos e nações, os principais interessados, alheios aos desejos capitalistas dos interesseiros do mercado financeiro.