A etimologia da palavra "currículo" remonta ao latim e se refere a "caminho", "jornada" e "trajetória". Nessa perspectiva, concebe-se o currículo como um produto moldado pela cultura, enraizado nas experiências de um determinado período e local, e que estrutura práticas educacionais em um contexto político, social, histórico e cultural específico da humanidade.
Nessa ótica, pode-se definir o currículo como um conjunto de diretrizes didáticas, regulamentos, conteúdos e escolhas metodológicas construídas a partir das vivências sociais em uma determinada sociedade, permeada por lutas e disputas de poder em busca de um currículo que corresponda às aspirações e necessidades desse momento histórico.
Apoiando essa compreensão, Apple (2006, p. 59) ressalta que "a educação está estreitamente ligada à política da cultura" e é o produto de uma visão seletiva de determinado conhecimento como legítimo por parte de algum grupo ou indivíduo.
De acordo com Moreira e Silva (2006, p. 154), "o currículo é um lugar, um espaço, um território. O currículo é uma trajetória, uma jornada, um percurso. O currículo é uma autobiografia, nossa vida, curriculum vitae: é nele que forjamos nossa identidade. O currículo é um texto, um discurso, um documento de identidade". Esses autores ainda afirmam que o currículo é "um artefato social e cultural. [...] não é um elemento inocente e neutro de transmissão desinteressada do conhecimento social. [...] está implicado em relações de poder" (MOREIRA, SILVA, 2006, p. 7-8).
Ao buscar compreender como o currículo se desenvolve em um contexto escolar específico, Sacristán (2000) delineou seis níveis que contribuem para a materialização do significado do currículo, em que cada nível se entrelaça reciprocamente e de forma circular. Destaca-se os seis níveis de concretização do currículo propostos por Sacristán (2000), a saber: currículo prescrito, currículo apresentado aos professores, currículo moldado pelos professores, currículo em ação, currículo realizado e currículo avaliado.
Com base nos conceitos apresentados, fica evidente que o conceito de currículo é abrangente e se adapta de acordo com os interesses específicos em um determinado tempo e espaço. Portanto, buscamos compreender o currículo como um projeto interativo, cujo processo de construção e desenvolvimento implica unidade, continuidade e interdependência entre as decisões no plano normativo ou oficial e o processo real de ensino-aprendizagem.
Além disso, o currículo é uma prática pedagógica que resulta da interação e convergência de diversas estruturas (políticas, administrativas, econômicas, sociais, escolares, etc.), baseadas em interesses específicos e responsabilidades compartilhadas. Nesse sentido, os envolvidos na construção do currículo devem reconhecer sua natureza dinâmica e processual, e que as diferentes teorias e concepções de currículo da época influenciam sua elaboração e implementação.
Somado a isso, o currículo se configura de maneira distinta para cada nível e modalidade de educação. Como explicado por Sacristán (2000), ele se manifesta de forma diversa em cada nível e modalidade de ensino, sendo, portanto, o currículo do ensino básico distinto do ensino superior e da pós-graduação.
APPLE, Michael W. Ideologia e currículo. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006.
MOREIRA, Antônio Flávio; SILVA, Tomaz Tadeu. (Org.). Currículo, cultura e sociedade. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2006.
SACRISTAN, J. Gimeno. Poderes instáveis em educação. Tradução de Beatriz Affonso Neves. Porto Alegre: Artmed, 1999. ___. O currículo: uma reflexão sobre a prática. Porto Alegre: Artmed, 2000.