Já tive experiências com alunos com TDAH e com deficiência intelectual, mas também com diversos não diagnosticados (autismo nível 1 e 2 de suporte), em salas de 40 alunos. É muito difícil. Minha atuação é na educação de ensino médio integrada ao ensino profissional, ou seja, alunos de 15 anos ou mais, que chegam sem diagnóstico, com um déficit de anos sem acompanhamento, para cursar 20 disciplinas em um ano, sendo várias técnicas. Em todos os casos, fiz busca de informações sobre as condições e busquei adaptar alguns materiais e avaliações.
Quando recebemos um aluno que já apresenta um laudo e tem mínimo suporte, a situação melhora muito, pois já existe um norte para o professor, a partir do entendimento que se tem das necessidades do adolescente. O estabelecimento do núcleo de atendimento, com sala de AEE e equipe multidisciplinar, capacitados, que capacitem professores e outros profissionais da educação, auxilia no acompanhamento, na adaptação de materiais, na adaptação didática e das avaliações, sendo indispensável e ideal para evolução desse aluno.
Para mim, a escola tem muitas falhas, começando pelo ensino fundamental, em que esses alunos passaram em branco até chegar no ensino médio, sem diagnóstico e acompanhamento, sendo despejados como se lá fosse acontecer um milagre. Ao chegar no ensino médio, este aluno é colocado em uma sala com 39 outros, cada um com suas especificidades. Se espera que esses professores, com 2 tempos semanais na turma, sejam capazes de fazer algum diagnóstico e encaminhá-los para avaliação, muitas vezes sem nem existir um lugar para serem encaminhados e com a negativa da família.
Deixo aqui a minha reflexão sobre esse atendimento e sobre a legislação.
Como forma de forçar as instituições a fazerem alguma coisa para a inclusão das crianças com necessidades específicas, as leis trazem uma miríade de regras e obrigações que, na grande maioria dos casos, recai sobre o docente e não sobre as instituições. Praticamente todos os artigos que li nessa especialização coloca o professor como o mais responsável e delega a ele ser um especialista em todos os transtornos, deficiências e quaisquer outras situações educacionais, quando na verdade e na prática, sozinho ele não tem condições nenhuma de fazer isso, ainda mais na realidade brasileira. Mesmo artigos que falam sobre as salas de recurso, de pessoal especializado, de tecnologias educacionais assistivas, colocam o professor no patamar de ser o vilão, sem empatia e vontade de fazer, quando na verdade a grande maioria dos casos de sucessos estão baseados no sacrifício de vida de professoras que se dedicam a inclusão de seus alunos sem apoio nenhum. É cansativo.
Artigos com soluções, técnicas e meios de alcançar essa excelência em sala de aula são escassos e normalmente pontuais, na educação infantil e em escolas que não seguem o padrão brasileiro e muitas vezes mascaram a realidade da sala inteira e expões apenas situações específicas de acompanhamento individual, esquecendo-se que a escola ocorre o ano todo e em vários anos.
Foi quase um desabafo, pois vejo que está na hora de escrever artigos que foquem no todo e não só no professor, que cobrem financiamento, diminuição de alunos por sala, acesso a recursos e espaços adaptados, que foquem a realidade do dia a dia da sala de aula e não na teoria, no idealizado e, principalmente, que pare de demonizar o professor e dê suporte a sua ação em sala de aula, principalmente nos primeiros anos do ensino regular.