Desde que foram anunciadas as diversas mudanças que resultaram no Novo Ensino Médio, muitas dúvidas passaram a fazer parte do cotidiano dos professores, que estão se deparando com o desafio de preparar suas escolas para o novo formato.
Um dos primeiros pontos frágeis é a baixa carga horária prevista para a Base Nacional Curricular Comum – BNCC, ou seja, no máximo 1200 horas do currículo. Uma das justificativas para diminuir a carga horária da Base Nacional Comum Curricular tem sido o fato de que muitos alunos saem do ensino médio sem o domínio de conteúdos básicos de química, física, biologia, por exemplo. Entretanto, não podemos confundir o baixo êxito na aprendizagem de certos conteúdos e disciplinas com sua importância para a formação básica. Acredito que os alunos hoje não aprendem mais, principalmente em função da metodologia de ensino. Essa, muitas vezes, deixa os conteúdos desinteressantes e desconectados da sua vida, exigindo memorizações e abstrações inapropriadas. Então, antes de pensar em excluir essas disciplinas, é preciso rever a metodologia de ensino. Isso vale para educação física e educação artística, também. Ou temos alguma dúvida da importância que tem a arte na formação humana ou os benefícios que boas aulas e práticas de educação física podem trazer para o adolescente na sua vida atual e futura? Acredito que a proposta de retirada dessas disciplinas se deu muito mais em função do modo como são ministradas do que, de fato, da sua importância para a formação plena do aluno. Assim, depois de equacionadas as questões metodológicas, podemos dimensionar a quantidade e o nível de aprofundamento dos conteúdos a serem ministrados. Cuidar para não comprometer a formação universal dos alunos.
Como podemos perceber, infelizmente, o Ensino Médio recebe hoje alunos do Ensino Fundamental com muitas deficiências. Há estudos demonstrando que o primeiro ano do ensino médio serve, muitas vezes, para corrigir, em parte, as carências da formação dos alunos no ensino fundamental. O que me preocupa é o risco de, com essa baixa carga horária, comprometermos os conteúdos universais destinados ao ensino médio. Por consequência, transformarmos a parte curricular comum do Ensino Médio no “Ensino Fundamental III”. Portanto, para minimizar esse problema precisamos também promover uma reforma de mesma envergadura no Ensino Fundamental, principalmente nas séries finais. Se isso não acontecer, será difícil melhorar o ensino médio, reduzindo a carga horária da base nacional comum.