Como professora, desde o meu primeiro ano em sala de aula tenho tido contato com alunos neurodivergentes tanto dentro do TEA quanto apresentando outros diagnósticos.
Falando especificamente do TEA, atualmente tenho em todas as escolas onde estou professora vários alunos laudados e vou citar a minha experiência hoje na rede privada já que no último fórum falei sobre a minha experiência na rede municipal.
Tenho dois alunos no 7º ano do ensino fundamental, um menino e uma menina, diagnosticados dentro do espectro autista. Ele apresenta características mais próximas ao descrito como síndrome de Asperger enquanto ela apresenta características mais próximas de uma autista com grau de suporte moderado.
Ambos fazem parte de uma mesma turma (é uma escola pequena com um modelo de ensino diferente do convencional) e tem necessidades também diferentes. Enquanto professora meu papel é, junto a direção e a equipe pedagógica, pensar nas melhores formas de atender estes alunos dentro das suas especificidades. Observando-os no dia a dia da sala de aula consigo compreender quais são as maiores dificuldades e maiores potencialidades. A exemplo, temos o menino com uma criatividade bastante aflorada, discurso sólido e vocabulário extenso, muita desenvoltura na comunicação, interesse por leitura principalmente de quadrinhos (os quais ele cria também) e um grande interesse por arte e história. Ao mesmo tempo, ele apresenta um incomodo muito grande com barulhos, dificuldade em trabalhar em grupo, sempre preferindo atuar sozinho, mas essas características não o impedem de interagir com os colegas e até intervir em alguns momentos. É uma criança extremamente inteligente emocionalmente e que já sabe quais mecanismos usar pra se autorregular. A menina por outro lado apresenta grande dificuldade na autorregulação, hiperfoco que oscila bastante e uma grande dificuldade em cumprir demandas e entregar as atividades conforme orientação ou prazo, cabendo sempre acompanhamento próximo e auxílio de profissionais específicos e do professor. Apesar da fala bem desenvolvida, apresenta grande dificuldade de comunicação, tendo explosões de raiva em sala quando o ambiente não funciona como o esperado ou quando não consegue cumprir alguma demanda. A aluna replica bastante comportamentos dos pais e em alguns momentos esses comportamentos atrapalham o seu desenvolvimento, sendo pauta de muitas conversas e intervenções por parte da equipe pedagógica já que estes comportamentos interferem no desenvolvimento da aluna.
Compartilhando esse relato, gostaria de mostrar como a neuroatipicidade é diversa e tem diferentes demandas. Assim como alunos típicos, os atípicos terão diferentes necessidades e é papel da escola e do professor observar e prover o necessário para o desenvolvimento deste aluno. É em sala de aula que eles passarão boa parte do dia e é neste ambiente que deve acontecer o acolhimento e a inclusão a fim de que esse aluno atinja o máximo de seu potencial, ganhando autonomia e sendo estimulado por seus professores.
Ainda não tive a experiência de lidar em sala com alunos com síndrome de Rett, porém acredito que para todas as neurodivergência e transtornos de desenvolvimento que encontramos em sala, a máxima da observação e compreensão das necessidades do aluno deve sempre prevalecer. É a partir do respeito, do carinho e da observação atenta que podemos compreender as necessidades de nossos alunos e contribuir para o seu desenvolvimento. Se faz necessária a formação continuada, a pesquisa e o estudo por parte dos profissionais da educação, o preparo do ambiente físico e de materiais adequados, bem como a busca por conhecer e compreender o diagnóstico, a fim de atender este indivíduo dentro do que é definido pela lei e também prezando sempre por sua dignidade e inclusão.