Os estudos desta semana proporcionaram vários esclarecimentos sobre o TDAH, deixando claro que este não é um transtorno com características e padrões homogêneos; na realidade, são vários os sintomas e modos de apresentação do Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade, mas a questão da dificuldade de manutenção do foco e a desatenção persistente em atividades cotidianas, em maior ou menor grau, é um elemento que sempre aparece no escopo sintomatológico do TDAH. Segundo a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), "os portadores de TDAH vão ter muitas dificuldades em manter a atenção em um monte de coisas. Elas também tendem a ser impulsivas (não esperam a vez, não leem a pergunta até o final e já respondem, interrompem os outros, agem antes de pensar). Frequentemente também apresentam dificuldades em se organizar e planejar aquilo que querem ou precisam fazer".
Os casos de adultos com TDAH, que não tenham sido diagnosticados na infância ou adolescência, são mais difíceis de serem percebidos e diagnosticados pelos médicos, os quais tendem a associar o quadro sintomatológico da pessoa adulta com problemas de personalidade, por exemplo. Ainda segundo a ABDA, "os adultos com TDAH costumam ter dificuldade de organizar e planejar suas atividades do dia a dia. Por exemplo, pode ser difícil para uma pessoa com TDAH determinar o que é mais importante dentre muitas coisas que tem para fazer, escolher o que vai fazer primeiro e o que pode deixar para depois".
Acredito que, atualmente, apesar dos avanços científicos, continua sendo bastante desafiadora e complexa a perspectiva do diagnóstico assertivo do TDAH, uma vez que há dois extremos na amplitude desse cenário. O primeiro é o da insuficiência de informações qualificadas por parte dos profissionais envolvidos com a criança e o adolescente, levando a distorções das mais variadas e ao superdiagnóstico. Logo, não é incomum que uma criança que se comporta de maneira inapropriada frente a determinado modus operandi educacional (este, sim, absolutamente inadequado!) seja tachada como hiperativa ou com déficit de atenção, inclusive com a ratificação de laudos médicos pouco razoáveis, criteriosos e sensíveis - embrenhados, na verdade, com o paradigma da medicalização da infância e da juventude. O segundo extremo também remete à lacuna formativa, culminando, porém, no subdiagnóstico. Ou seja, docentes, familiares e profissionais da saúde acabam não interpretando adequadamente os sinais do transtorno, vão minimizando os sintomas, culpabilizando e estigmatizando a pessoa com TDAH subdiagnosticado, o que limita gravemente as possibilidades de ingresso em um tratamento precoce e efetivo. Destarte, fica evidente o quão importante é a disseminação de conhecimento aprofundado e de qualidade, a fim de que equívocos como esses aqui mencionados sejam evitados.
As práticas escolares que podem ajudar na inclusão dos alunos com TDAH devem estar baseadas na escuta sensível, empatia, acolhimento, respeito e olhar comprometido, amoroso e atencioso. Os professores devem ajudar o estudante a selecionar e manter o foco, diminuindo, na medida do possível, os elementos distratores do ambiente de sala de aula. É fundamental que o docente perceba e reconheça, com sensibilidade redobrada, as necessidades de cada estudante em sua especificidade, o que inclui, evidentemente, as particularidades dos alunos com TDAH.
A ABDA orienta o professor a, entre outras coisas: oferecer feedback positivo (reforço) através de pequenos elogios e prêmios; trabalhar com maior diversidade de materiais pedagógicos (como recursos imagéticos, lúdicos, audiovisuais, concretos etc.); utilizar a técnica de “aprendizagem ativa”, mão na massa, de caráter dinâmico e colaborativo; realizar adaptações ambientais na sala de aula, de forma a evitar distrações; usar sinais visuais e orais, bem como mecanismos e/ou ferramentas para compensar as dificuldades memoriais (tabelas, post-it, cartazes...); etiquetar, iluminar, sublinhar e colorir as partes mais importantes de uma tarefa, texto ou prova; flexibilizar o tempo do estudante para a realização das atividades, provas ou trabalhos mais exigentes, respeitando o ritmo de cada um. É imprescindível, ademais, que o professor forneça instruções objetivas, que não deem margem para interpretações dúbias, explicando tudo de maneira clara e definindo metas realistas e possíveis de serem alcançadas por cada estudante dentro de suas múltiplas necessidades e potencialidades.
Vale ressaltar que não podemos diminuir a qualidade e o alcance dos conteúdos escolares, utilizando como justificativa o argumento de que "o aluno não é capaz de avançar neste ou naquele aprendizado" devido ao fato de ter TDAH. Todos os estudantes são plenamente capazes de aprender bem e de avançar no desenvolvimento do currículo. Além disso, o aluno com TDAH não necessariamente possui problemas de aprendizagem ou deficiência intelectual. Pelo contrário, pessoas altamente inteligentes (inclusive personalidades famosas pelo mundo, destacáveis em suas áreas de atuação) possuem o diagnóstico de TDAH. Portanto, não nos cabe rotular nem prejulgar, limitando o oferecimento de recursos curriculares de riquíssimo conteúdo. O que precisamos, enquanto educadores, é adequar aquilo que planejamos e colocamos à disposição do aluno, levando em conta as demandas percebidas no decorrer das inúmeras situações pedagógicas experienciadas em cada contexto específico de aprendizagem.
Referências
Associação Brasileira do Déficit de Atenção - ABDA. ALGUMAS ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS PARA ALUNOS COM TDAH. Disponível em: https://tdah.org.br/algumas-estrategias-pedagogicas-para-alunos-com-tdah/
Associação Brasileira do Déficit de Atenção - ABDA. QUADRO CLÍNICO. Disponível em: https://tdah.org.br/quadro-clinico/