A importância do trabalho conjunto dos professores da sala de aula comum e os professores da Sala de Recursos Multifuncionais – SRM: por uma pedagogia da diferença
A leitura do texto sugerido, contido no livro “A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar: a escola comum inclusiva” (ROPOLI et al., 2010), enfatiza a ideia de que não é possível a realização de um trabalho verdadeiramente inclusivo, baseado numa pedagogia da diferença, sem que haja sólida parceria entre os professores da sala de aula comum e os da SRM. O texto corrobora, portanto, a perspectiva de articulação e potencialização de recursos, estratégias e metodologias de ensino e aprendizagem de forma colaborativa – sempre a favor da diversidade.
Nesse sentido, destacamos o seguinte excerto:
Os professores comuns e os da Educação Especial precisam se envolver para que seus objetivos específicos de ensino sejam alcançados, compartilhando um trabalho interdisciplinar e colaborativo. As frentes de trabalho de cada professor são distintas. Ao professor da sala de aula comum é atribuído o ensino das áreas do conhecimento, e ao professor do AEE [Atendimento Educacional Especializado] cabe complementar/suplementar a formação do aluno com conhecimentos e recursos específicos que eliminam as barreiras as quais impedem ou limitam sua participação com autonomia e independência nas turmas comuns do ensino regular (ROPOLI et al., 2010, p. 19).
Conforme podemos inferir da citação acima, é fundamental que se articulem as frentes de trabalho do professor da classe comum e do AEE, de maneira que seja elaborado um plano de ação pedagógica interdisciplinar, dialógico, flexível e multifacetado, capaz de atuar no contexto de eliminação das barreiras que limitam a autonomia dos estudantes PAEE (público-alvo da educação especial). O professor da SRM não trabalha sozinho, não toma decisões unilaterais nem, tampouco, assume isoladamente as responsabilidades pelo aluno PAEE. É importante que faça parte do Projeto Político-Pedagógico (PPP) da escola a concepção de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva, o que implica na corresponsabilização de todos os agentes envolvidos no percurso formativo de cada estudante da instituição, com ou sem deficiência, Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD) e/ou Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD).
Se o PPP da Unidade Educacional conceber a importância da assunção de metas e objetivos pedagógicos inclusivos e socialmente justos, bem como de acolher e fomentar práticas voltadas à aprendizagem de todos – sem que ninguém fique para trás; sem qualquer idealização estereotipada, preconceituosa ou discriminatória; e de forma convictamente alinhada com a defesa irrestrita da dignidade humana –, será possível afirmar que a escola reconhece, de fato, o valor de sua identidade enquanto instituição social inclusiva e democrática.
Segundo Oliveira (2022, p. 116),
o trabalho colaborativo é constituído de estratégias pedagógicas em que os professores especialistas da área de educação especial (ou que atuam no AEE) e os professores da sala comum planejam juntos procedimentos mínimos para o atendimento das necessidades dos estudantes do público-alvo da educação especial e, consequentemente, promovam sua participação nas atividades do dia a dia da escola.
Como vimos, o ponto de convergência da atuação dos professores da sala comum e do AEE consiste na intencionalidade de que os estudantes público-alvo da Educação Especial participem nas atividades do cotidiano escolar com os demais alunos, tendo suas necessidades específicas respeitadas e acolhidas, de modo a superar as barreiras que dificultam a aprendizagem e a comunicação com o mundo social. O foco não é criar um Plano de Trabalho que retire do aluno PAEE a oportunidade de conviver e aprender com os seus pares, isolando-o dos demais estudantes, mas sim de ampliar a construção colaborativa, na qual todos possam aprender juntos, respeitando-se os diferentes ritmos e estilos de aprendizagem, sejam eles quais forem, com a garantia de cooperação, amorosidade, empatia e solidariedade.
Um aspecto que aparece, recorrentemente, na bibliografia sobre educação especial e inclusiva é o da importância da formação continuada do educador para que ele consiga acolher a diversidade em seu fazer. Podemos constatar a ênfase nessa dimensão formativa no livro de Ropoli et al. (2010, p. 28), quando afirmam, por exemplo, que compete à gestão escolar “implementar ações que garantam a formação das pessoas envolvidas, direta ou indiretamente, nas unidades de ensino [...] por meio de palestras informativas e formações em nível de aperfeiçoamento e especialização para os professores que atuam ou atuarão no AEE”. Também, Oliveira (2022, p. 117) defende que se “as questões relacionadas à formação permanente (continuada ou em serviço) estão sendo consideradas pela escola, será mais fácil pensar em estratégias de efetivação desse trabalho colaborativo”.
À guisa de conclusão, vale ressaltar que não existem fórmulas mágicas, padrões ou receitas para uma prática educacional inclusiva. O que temos são caminhos possíveis, que se constituem na interlocução com o respeito às diferentes formas de ser e de aprender, avalizando uma pedagogia da diferença “construída no entendimento pleno da inclusão e destinada a alunos que não se repetem e para os quais é impensável sugerir qualquer ‘customização’ educativa” (MANTOAN, 2015, p. 88). O diálogo, a parceria e o trabalho colaborativo na escola são alguns desses caminhos possíveis em prol da pedagogia da diferença.
Referências
MANTOAN, M. T. E. Inclusão escolar – O que é? Por quê? Como fazer? São Paulo: Summus, 2015. (Coleção Novas arquiteturas pedagógicas)
OLIVEIRA, J. P. de. Educação especial: formação de professores para a inclusão escolar. São Paulo: Contexto, 2022. (Coleção Educação na universidade)
ROPOLI, E. A. et al. A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar: a escola comum inclusiva. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial; Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2010, v. 1. (Coleção A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar)