O documentário dialoga diretamente com o texto da semana e o contexto apresentado sobre as reformas educacionais dos anos 1990, quando vemos que o Brasil surfou (ou foi tragado) pela onda neoliberal advinda da Escola de Chicago e do Consenso de Washington. A partir do filme fica claro que o atual estágio educacional que vivemos é fruto de um histórico processo de disputa entre aqueles que nada têm e aqueles que tudo tomam. Fico a pensar sobre a última reforma, que criou o "novo" Ensino Médio, e se não deveria se chamar de Neoensino Médio, visto que sua formulação atende plenamente ao atualizado receituário nefasto do neoliberalismo.
O Prof. Milton Santos encerra o documentário aparentando otimismo... um novo mundo possível... uma nova globalização... eu particularmente não consigo manter esse otimismo do prof. Milton. Quando olho para o passado, por exemplo, assistindo o documentário "Carta-mãe", vejo como sempre os interesses econômicos estiveram acima da vida no mundo do colonial ou "do lado de cá", como também se refere ao nosso mundo o professor Boaventura de Souza Santos em seu trabalho "Epistemologias do Sul" (SANTOS, 2014). Boaventura também é otimista, e diz ver nas formas de pensamento dos povos indígenas caminhos possíveis. No documentário de Tendler, vemos o quanto os povos indígenas estão há tempos lutando contra esse movimento capitalista (desde 1500, literalmente), e como o capitalismo vem encontrando novas formas de extender seu predomínio enquanto modo de vida e produção. Tento me agarrar nas palavras do próprio Milton Santos, quando inicia dizendo que do estudo pode vir a clarividência... E quanto mais estudo e olho pro futuro, piores me parecem as perspectivas a longo prazo e em larga escala.
Se pensarmos o Brasil do últimos anos, os avanços sociais que pudemos juntar a duras penas desde a Constituição de 1988 foram, se não jogados no lixo, duramente atacados, esvaziados, corroídos, como num terrível ciclo de repetições. Mais reformas bizarras foram implantadas e não serão desfeitas mesmo num cenário de governo mais progressista. Fico pensando se um dia o Tribo de Jah terá motivos para fazer uma música diferente, onde tal qual diz Milton Santos, uma nova globalização seja possível, um novo mundo seja construído. Sigo nessa luta, mesmo estando pessimista quanto ao presente e quanto ao futuro. O caminho penso que é o da escala local. Pequenos fazeres, pequenas ações, pequenos boicotes... o capitalismo se importa com cada migalha, então penso que se não será esse o caminho: começar a tirar as migalhas do grande capital na escola, no bairro, na rua, na vizinhança... ajudar o pequeno, privilegiar o local... e usar as próprias redes para articular essas pequenas iniciativas locais... enfim, seguimos lutando e pensando, ocupando esses espaços contraditórios.