Para que haja um ensino profissional de qualidade, é necessário que se resolva os problemas estruturais das escolas.
Enquanto docente da rede pública, lecionando para o Ensino Médio, ainda enxergo os velhos problemas de quando ainda era aluna numa cidade do interior do Amazonas. Já fizemos um questionário na escola sobre qual a escola ideal e as resposta sempre remeteram à infraestrutura. Atualmente, com as consequências do antropoceno no processo de aquecimento e ebulição global, o nosso Estado, Amazonas tem sofrido com as altas temperaturas. As salas de aula não tem concedido ar condicionados de qualidade, a manutenção demora meses para ser feita e um bom tempo para ser refeita. E para manter os discentes em sala para uma aula qualquer, tem sido complicado. Nem sequer estão indo à escola por conta dessas dificuldades climáticas, financeiras e agora por conta da estrutura da escola. Os projetores estão velhos, isso quando tem mais de um projetor bom disponível. A água ainda tem gosto de ferro, a merenda se resume ao velho suco com bolacha ou bolacha com suco, como brincam os alunos, rs.
Como esse discente se sente nesse "novo" ensino? Perdido, sobrecarregado de livros e disciplinas que eles consideram inúteis porque não há nada de diferente na prática cotidiana e, infelizmente, não somos nós - professores - que providenciaremos essas mudanças. Já tive diretor que teve que ir pegar bolachas em outra escola para servir na merenda.
Nesse sentido, como o aluno vai pensar em uma carreira se ele sofre com diversas mazelas: transporte público, falta de saneamento, uma escola que é quente e enfadonha, suco com bolacha, violências simbólicas, ausência de atendimento psicológico na escola, e etc?
É notório que foi uma reforma estabelecida por setores privados, interessados em desgastar a profissão docente reduzindo custos e enviando uma mensagem bem direta à classe docente, que ela é que vai ser a culpada se os índices de aprovação baixarem, se o discente não conseguir ser um profissional bem sucedido ou não entrar na faculdade. Nem sequer é pensado em questionar a estrutura do mundo em que o discente vive. Isso resulta no quê? ADOECIMENTO! E daí, acham que a disciplina Projeto de Vida, lecionada por algum professor de humanas retirado de sua área de formação, vai ser a solução para o problema.
Então, essa contrarreforma é uma aberração e um ataque a tudo que foi construído em termos de direitos dos profissionais docentes e direitos educacionais da população. Nem estrutura para ofertar 6º e 7º tempo as escolas possuem, exceto as integrais, que são poucas.
Desse modo, sou contra a reforma do ensino médio, sou contra esse modo de culpabilizar o discente e o docente por todas as mazelas e fracassos que podem vir. Ainda é uma reforma pensada no sentido do "o que você quer Ser?", quando deveria ser pensada no sentido de que "já somos algo e alguém... como podemos melhorar o que somos de forma coletiva?".