Uma das ideias que se pode inferior dos dois textos está relacionada à centralidade do currículo nas discussões relativas à educação. Parece haver uma crença exagerada e generalizada de que a mudança nos componentes curriculares e na quantidade de dias letivos impactará os destinos da educação no país.
Antes da BNCC, havia a reclamação de que os currículos estavam ultrapassados e uma reforma urgia para atender às necessidades de uma educação moderna, em que se conferisse maior protagonismo ao discente na formação de seu percurso.
Agora, constata-se a insuficiência da reforma do Ensino Médio e o quanto a base curricular comum, ao contrário do que se pensava inicialmente, tem diminuído a presença das realidades regionais na formação dos discentes, não obstante a importância que possuem.
A formação da base curricular comum tende à padronização da educação, na medida em que, na prática, os professores não dispõem de tempo suficiente, no ano escolar, para conseguir trabalhar os conteúdos comuns e, paralelamente, abordar temas relacionados às diversidades locais ou regionais, que sejam do interesse mais imediato dos alunos e da comunidade escolar. À falta de tempo, como é notório, deixa-se de lado o especial e foca-se no que é geral.
Com efeito, os livros didáticos, embora concebidos por comissões de eminentes educadores, não conseguem abarcar todos os conteúdos, motivo pelo qual são elaborados com base em uma seleção que, por visar a todas as regiões do país, tende a ser ampla e genérica. Por conseguinte, caberia aos próprios docentes a tarefa de selecionar conteúdos e materiais que, de forma específica, pudesse tratar das diferenças regionais. Observa-se, só por esse fato, que é muito mais plausível que o ensino tenda a permanecer sobre o que é geral.
Cumpre-se destacar que, nessas mudanças curriculares, os professores ficaram em situação bem difícil, pois se viram compelidos a promover grandes alterações em todos os níveis de sua atuação sem que tivessem tempo e condições para as adaptações. Conquanto as discussões tenham se estendido por muitos anos (20 anos), o novo Ensino Médio passou a valer por meio de Medida Provisória, mais tarde convertida em lei. Os professores tiveram, ainda, que esperar a aprovação da BNCC para, então, entender e se prepararem para o novo Ensino Médio, o que, de forma clara e inequívoca, acarretou os problemas próprios à adaptação.
Portanto, essa visão de que a educação pode ser decidida de cima para baixo está na contramão da chamada gestão compartilhada e democrática da educação. Os docentes e toda a comunidade escolar tentam fazer o melhor, a despeito do que ainda parece haver a impressão de que a educação não é tratada com a seriedade e a prioridade que merece.