Uma experiência marcante na escola com um aluno autista mobilizou eu e outros professores para um embate com a mãe deste adolescente. O acontecido foi neste ano de 2023, o aluno é bastante debochado e sempre viveu em uma bolha, mas este ano mudou de escola e está respirando as dificuldades de ser um "aluno" real, pois antes ele era somente tolerado e não era realmente tratado como alguém que possa aprender e que podia lidar com consequências de suas ações. Ele sempre xingava os professores de "demente" ou reclamava alto quando o professor pedia as atividades para a turma, incluindo ele. Um dia normal eu pedi que todos abrissem a atividade na mesa para que eu pudesse passar o visto, então, copiando a agenda no quadro, eu perguntei a ele se ele tinha feito. E então, elevando a voz e se sentindo na "razão", ele me retruca, gritando para que todos pudessem escutar:
- Você fica fazendo essas perguntas dementes, claro que eu não fiz. - E eu sou uma pessoa muito tranquila, levei na esportiva, mas a turma ficou nervosa.
Perguntei por que ele não havia feito, já que ele sempre quer me fazer de psicóloga dele, perguntando e falando sobre qualquer coisa, me senti na liberdade, mas já levemente irritada, pois ele sempre tratava as atividades como "é claro que eu não preciso fazer".
Ele simplesmente eleva mais ainda o tom de voz e me responde:
- A senhora é demente, eu estava dormindo. Aff, não pode nem se divertir mais.
E ser chamada de demente duas vezes seguidas no mesmo dia pelo mesmo aluno já me tirou a paciência, apesar de eu saber de seu autismo, isso é desrespeito comigo. Então eu resolvi tomar minhas providências. Perguntei para ele por que eu era demente e ele me retruca dizendo que eu faço perguntas idiotas. E sinceramente, nunca tinha passado por isso antes, mesmo tendo um irmão autista, meu sangue ferveu logo, a turma toda ficou calada. Então mandei que ele fosse para a coordenação por que não ia aturar ele ficar falando assim comigo, se não sabe respeitar alguém, que vá esfriar a cabeça na coordenação. E ele se negou, e eu perdi a razão quando permiti que ele continuasse na sala. Mas depois eu tentei esquecer e só ignorá-lo por que estava cansada, mas ele ficou me perturbando a aula toda debochando de quem fez a atividade. E como eu sempre peço uma atividade no fim da aula, fui auxiliá-lo a fazer, como sempre. Mas ele não quis. E aí foi quando eu falei que ia falar com a mãe dele sobre este comportamento. E aí meu pesadelo começou. Ele ficou ameaçando dizendo que eu não podia contar e eu falei que ele tinha que saber das consequências das coisas que ele faz. Ele ficou alegando que ele já sabia muito bem como deixxar a mãe dele com raiva e ficou o tempo todo me ameaçando, chegou a chorar em sala de aula, mas é claro que eu falei com a mãe dele. Além de me desrespeitar em classe, ainda me ameaçou. Eu sei que ele não tem muita noção e não levei isso pro coração, mas a mãe dele precisa saber que ele não está mais em uma bolha, tudo tem suas consequências.
Uns dias depois a mãe dele exigiu uma reunião na escola comigo e outros professores. Eu pensava que ela iria pedir desculpas pelo comportamento do filho e auxiliar os profs de como agir em situações do tipo, mas ela veio somente nos degradar em meio a diretora e coordenações, reclamando com a diretora que ele tinha tarefa de casa e que ele está na escola apenas para desenvolver habilidades sociais, que ele estava com notas baixas e que ele TEM que passar de ano, que era uma das "exigências" dela para ter matriculado ele na escola. Logo, a diretora ficou argumentando a favor dos professores, que ele não deveria ser mantido em uma bolha e que as atividades fazem parte da experiência escolar e que era dever dele desenvolvê-las, se não todas, ao menos tentar algumas. E nós, professores, sempre o auxiliamos com tudo, mas ele sempre xingava a todos, principalmente por razões familiares, o prof de matemática era xingado pois parece com o pai dele, e eu sou tratada como se fosse a mãe dele, com quem ele pode falar as obcenidades que ele quiser. MAS não é assim que tem que ser. E entendemos que ele não faz por maldade, mas tudo tem seu limite. A mãe dele ameaçou me colocar na justiça pois eu quis expulsá-lo de sala e que "fiz ele chorar" em sala de aula, sendo que ele mesmo ficou me ameaçando e querendo manipular minhas ações, toda vez que eu olhava o celular, ele perguntava se eu estava mandando mensagem para a mãe dele e eu dizia que ainda não, mas iria, por que não iria aturar o comportamento dele daquele jeito e queria conversar com ela sobre isso (já que é a pessoa responsável por ele, ninguém melhor que ela para esclarecer todos os fatos e incômodos). Então ele "chorou", pois queria que eu não falasse com a mãe dele, ele está no 1º ano do ensino médio. Quando viu que chorar não ia fazer eu mudar de ideia, começou a me ameaçar. E eu sou super amiga dele como professora, por isso me preocupei em informar a mãe dele sobre este comportamento e fui recebida com apunhaladas.
Então esse aluno fez meus olhos se abrirem para a inclusão, tanto pela situação, como pelo desconforto que senti ao lidar com tudo, inclusive com a mãe desregulada que, igualmente, xingou os professores e me mandou um vídeo na rede social que dizia que se igualava a situação: um episódio de Good Doctor onde o protagonista é ASSALTADO em um supermercado.
Então eu fiz este curso na tentativa de entender tudo isso por qual eu passei, para que eu possa NUNCA mais passar por algo semelhante e possa melhorar minha relação com este aluno sem ter que nunca mais falar com seus parentes, pois ele, apesar de tudo, é uma boa pessoa. Tanto ele quanto eu nos exaltamos naquele dia e eu reconheço, um aluno autista jamais reagiria do mesmo jeito que qualquer outro aluno. Este curso tem me ajudado a perceber nuâncias da lei e comportamentos relacionados a grupos de inclusão. Também depois desta situação, os outros professores resolveram tomar algumas medidas para ele, como passar menos exercícios (eu já passava no máximo 10 questões, agora passo 4), não responder às piadas dele, não se aproximar demais dele, ajudar somente no necessário e, devido à mãe, tentar colocá-lo em uma bolha noovamente para que ele consiga progredir na escola e passe de ano sem problemas. Iremos focar no lado social dele. A diretora contratou uma psicopedagoga para trabalhar com ele e outros alunos de inclusão na escola, o que acho que vai melhorar muito a qualidade de aulas e o comportamento dele, assim como auxiliar os professores.