Tenho, atualmente, 14 alunos e duas amigas com autismo. E tenho observado que as maiores dificuldades enfrentadas por todos eles está no campo da comunicação.
As dificuldades lexicais, semânticas e prosódicas acabam prejudicando-os em diferentes momentos, no convívio com diferentes pessoas. Mesmo nos casos daqueles que se comunicam com maior funcionalidade, existem situações em que a dinâmica da conversação em grupo não funciona da maneira que a maioria espera e, depender a compreensão de outras pessoas às vezes é bem complicado.
No caso dos meus alunos, vejo o quanto a comunicação funcional faz falta. Pois, muitas vezes suas vontades e necessidades são expressas por meio de choros, gritos e comportamentos autolesivos. Existem também os momentos de "birra" que, se não forem contornados, podem se tornar desregulação. E esses momentos ocorrem pelas mais diversas razões, que podem incluir até mesmo a simples vontade de ir ao banheiro, ou comer um doce, biscoito etc.
O que eu acho mais interessante na relação com minhas amigas e com meus alunos, foi a confiança que se estabeleceu. E por confiança não digo que atendo a todas as vontades, ou que não faço intervenções no comportamento com conversas e até mesmo broncas, nos momentos mais adequados. Mas observo hoje que a confiança se estabeleceu por sempre demonstrar que entendo suas necessidades, e que sempre podemos encontrar alguma maneira de tentar amenizar as situações.
Hoje me recordo do comportamento inicial de um dos meus alunos com nível de suporte 3 que, quando contrariado, atirava objetos nos colegas e professores no início do ano letivo. Por esse motivo, algumas vezes, o coloquei "de castigo", sentado comigo na sala de recursos até se acalmar dizendo que ele estava deixando os colegas "tristes" com aquele comportamento. Hoje, ao se sentir frustrado, ele corre para me abraçar e chorar no meu colo, se acalmando ao receber cafuné.
É claro que não funciona com todos dessa maneira, mas sempre que as coisas se tornam difíceis, acho importante pensar nos bons exemplos de evolução com os quais tenho lidado ao longo dos anos para construir cada vez mais relações de confiança e carinho, que são tão necessárias a pessoas com TEA.