Não deixa de ser sintomático que o texto de defesa da BNCC e do Novo Ensino Médio (NEM, a partir de agora) seja uma publicação relacionada ao Banco Itaú, um dos grandes patrocinadores da concepção e implantação do NEM, junto com organizações como o Instituto Ayrton Senna, o Instituto Todos pela Educação, a Fundação Lehman, entre outros, todos eles muito cobiçosos em pôr as suas mãos e determinar os destinos de milhões de crianças e adolescentes brasileiros que passam pelo sistema educacional, ganhando com isso dinheiro, no caso de venda de material produzido para aulas remotas ou complementares; ou influência ideológica, na reafirmação do neoliberalismo como última etapa da humanidade, fato inexorável e inescapável. Não há prova maior do interesse privado na reforma no Ensino Médio do que a sua incapacidade de criticar o fato dela ter sido realizada através de uma Medida Provisória, um instrumento autoritário e muito pouco recomendado para algo que demandaria tanta discussão como a completa revisão do sistema educacional do país.
O artigo até reconhece que parte substancial das deficiências dos alunos são produzidas e reforçadas no Ensino Fundamental I e II, sob o comando de prefeituras pouco capacitadas e interessadas no desenvolvimento efetivo da educação, negligenciando a estrutura escolar, a formação de professores, a alimentação das crianças e o transporte delas para a escola, o artigo também reconhece que um Ensino Médio que permita escolhas que possam “garantir” empregabilidade (como se isso fosse possível na atual fase do capitalismo mundial, onde o desemprego estrutural é uma pandemia) impeça a formação integral dos estudantes e reproduzam a desigualdade social entre as famílias que têm Ensino Superior e as que “optaram” pelo Ensino Profissional, mas a verdade é que, de modo geral, o debate sobre a desigualdade não passa de fraseologia no artigo, o que importa é aumentar o nível de conclusão do Ensino Médio.
Ao contrário do artigo do Itaú-Unibanco, o segundo artigo busca ser muito mais profundo e crítico, desde seu início, denunciando o fato de que a forma da “deforma” do Ensino Médio foi profundamente antidemocrática, ignorando e atropelando os debates que já vinham sendo travados no PNE. O segundo artigo segue na direção contrária do primeiro, com um debate profundo sobre a BNCC e o NEM, calcado numa perspectiva crítica de que os Itinerários Formativos que contém a exclusão ou o rebaixamento das disciplinas de humanidades, não apenas têm o objetivo da formação da mão de obra, mas de uma que seja acrítica, incapaz de pensar a sociedade onde vive.